O roteiro foi perfeito em uma tarde destinada a entrar para a história. Com o Soccer City apinhado de gente, a África do Sul abriu a Copa do Mundo com uma festa barulhenta e comovente. Nem a ausência de Nelson Mandela reduziu o clima de euforia no estádio, como se cada um dos 84.490 torcedores tivesse a dimensão do que estava acontecendo no gramado. Sim, havia também um jogo dentro daquelas quatro linhas. E até ali tudo foi desenhado para ninguém ir embora triste. O Mundial que celebra a igualdade começou com um empate em 1 a 1 entre os donos da casa e o México.
Após um primeiro tempo morno, Tshabalala abriu o placar com um golaço no contra-ataque aos 10 do segundo. Os mexicanos responderam com Rafa Márquez, aos 34.
Na chegada ao Soccer City, os jogadores sul-africanos já estavam em clima de festa. Ainda vestindo ternos e com suas credenciais penduradas no pescoço, eles desceram do ônibus cantando e dançando. O ritual se repetiu no túnel que levou a equipe ao gramado para o aquecimento. E a resposta das arquibancadas veio em alto volume.
Dez minutos antes do início da partida, o microfone foi para as mãos dos presidentes: o da África do Sul, Jacob Zuma, e o da Fifa, Joseph Blatter, que deram as boas vindas ao público e citaram o “espírito de Nelson Mandela”, que não compareceu ao jogo de abertura por causa da trágica morte de sua bisneta num acidente de carro.
Na hora dos hinos nacionais, o placar eletrônico do estádio pediu respeito – Quiet, please – e as vuvuzelas silenciaram. Por pouco tempo. Eram 16h05m no país da Copa (11h05m no Brasil) quando o México deu a saída e a Jabulani finalmente rolou, e a partir daí o barulho não deu mais trégua.
Vestindo preto, os mexicanos só precisaram de um minuto para assustar os donos da casa. Giovani dos Santos, o filho de brasileiro que veste a camisa 17, pegou um rebote do goleiro Khune e só não empurrou para as redes porque a pressão dos zagueiros chegou a tempo.
Enquanto os sul-africanos ainda pareciam anestesiados pela festa da torcida e pela tensão de abrir uma Copa do Mundo dentro de casa, o México aproveitou para jogar bola. Sempre pelos pés de Giovani, que participava de todas as jogadas de ataque.
O time da casa só acordou aos 16 minutos, com uma tabelinha que acabou em falta na entrada da área. Pienaar botou efeito na bola, mas jogou por cima.
Dois minutos depois, o mexicano Juárez ganhou de presente o primeiro cartão amarelo da Copa, ao cortar um lançamento com o braço e retardar a cobrança. Mas os mexicanos continuavam jogando melhor, principalmente pelo lado direito, aproveitando a avenida deixada pelo lateral-direito Thwala.
Aos 26, Dikgacoi igualou a disputa dos cartões ao derrubar Giovani, que costurava pelo meio. E o lance mais bonito do primeiro tempo veio aos 31, quando Franco recebeu belo lançamento de Vela, matou no peito no meio da área e concluiu para a defesa de Khune.
Com a pressão asteca, Vela finalmente conseguiu marcar, mas o gol foi anulado. O atacante tinha Mphela à sua frente, mas o goleiro tinha saído para tentar o corte do cruzamento. O próprio Vela criou mais uma chance aos 33, Giovani teve a sua aos 36 e Franco repetiu a dose aos 40. Nada de gol.
A África do Sul foi cobrar seu primeiro escanteio aos 41. Empurrada pelas vuvuzelas, a seleção cresceu e pressionou. Aos 42, faltou um milímetro para Mphela completar de cabeça, sozinho, na pequena área. Dikgacoi também teve sua oportunidade de cabeça, mas mandou para fota. Após um minuto de acréscimo, as equipes foram para o vestiário.
Parreira tirou o inoperante Thwala e lançou Masisela, que era titular da lateral esquerda. O jogo voltou morno no segundo tempo até que, aos 10 minutos, o Soccer City explodiu. Após uma roubada de bola no meio de campo, a África do Sul trocou passes rápidos, e Mphela ligou o contra-ataque com um lindo lançamento rasteiro para Tshabalala. Ele entrou nas costas da zaga e, de pé esquerdo, deu uma pancada forte na Jabulani. Obediente, a bola foi morrer no ângulo de Perez.
África do Sul 1 a 0, Parreira vibrando no banco, loucura nas arquibancadas. Após marcar o primeiro gol da Copa, Tshabalala convidou os companheiros de time para uma dancinha à beira do campo e, em seguida, aplaudiu a torcida. A resposta veio com as vuvuzelas a todo vapor e todo o público de pé.
O México quase respondeu com Giovani, que fez bola jogada pela direita e soltou a bomba para Khune fazer mais uma grande defesa, colocando para escanteio. Mas apesar da entrada de Guardado no lugar de Aguilar, eram os donos da festa que jogavam melhor no segundo tempo. Modise perdeu grande chance cara a cara com Perez, concluindo pela linha de fundo.
Aos 23, Javier Aguirre mandou a campo o veterano Blanco, no lugar de Vela. Logo depois Modise entrou na área, e Rodriguez o deslocou com o braço esquerdo. Pênalti ignorado pelo juiz Ravshan Irmatov.
Masilela, que tinha entrado no intervalo, levou cartão amarelo por falta violenta. Com 28 minutos, o México fez sua terceira alteração: Hernández, de 22 anos, substituiu Franco.
Aos 34 minutos, as vuvuzelas se calaram pela primeira vez. Guardado cruzou da esquerda, e a bola passou por todo mundo até chegar aos pés de Rafa Márquez. Ele dominou no bico da pequena área e soltou de pé direito uma bomba à queima-roupa, sem chances para Khune, mergulhando o Soccer City em silêncio.
O choque sul-africano durou apenas três minutos, e as cornetas voltaram a todo vapor. O craque Pienaar, que participava de todas as ações ofensivas do time de Parreira, cansou. A dez minutos do fim, o técnico brasileiro optou por mandar a equipe à frente: tirou o meia e lançou o atacante Parker.
Aos 44, Mphela teve a chance de fazer o estádio explodir novamente, mas concluiu no pé da trave. Era o fim de uma tarde especial no Soccer City. E só o começo de uma Copa do Mundo histórica.
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